Pular para o conteúdo

Depois que o sol se for

maio 28, 2014

 

Um rumor de bichos livres que procuram abrigo

calma escuridão

Um galope cego, entre sons noturnos, brenha, uma visão

Se acaso o rumo se perder, solte-se à amplidão

do espaço além da razão e o que mais lhe deter

deixe o tempo derreter (e fugir de suas mãos)

 

A natureza em fúria varre paisagens, certezas,

do espanto fez-se amor!

A tempestade nubla os sentidos, desenha margens, êxtase e pavor.

Nada sei sobre o amanhã, o que é perene e o que não…

Se a beleza fenecer depois que o sol se for,

jamais terá sido em vão.

 

Transmutar-se em canções, cheiros, calor,

Trazer em si restos de estrelas,

marcas vitais.

 

Se o futuro é incerto, não há mais pressa,

descansa a cabeça até esquecer

O que há de vir não importa, o destino prega peças sem querer

Não vale a pena padecer antes da dor chegar

Cada um carregará a sua própria luz

Quando o céu escurecer (estaremos nus)

Imagem

 

Cadáver Delicado

maio 21, 2014

Image

Bem ali , ao lado, estupefato,

Jaz o amor cheirando a fogo-fátuo

No porão os medos,

morto-vivo, onde é que se escondeu?

 

Se  perdeu a crença em outra vida

Sonho vão,  superstição varrida

Vem no ar, arcaico

Velho Pã , espanta a escuridão.

 

minúsculo

maio 12, 2014

Manhã de inverno, desertas mãos,

estamos perto do eterno chão

O céu de cinza deserda o sol,

canção que foge em si bemol

       

Ninguém sabe quem somos nós,

do universo somente o pó.

Fragmentos de uma explosão,

um ponto à toa na imensidão.

 

Veja o mar Mediterrâneo,  já foi seco

e o tempo escondeu

Cataclismo, fendas

e o Atlântico em beleza o envolveu

 

Se ficou, transformará,

onde queira a poeira levará

Seja o que for, não passará,

vá onde queira a poeira levará.

Image

na academia

novembro 1, 2013

Como um gesto, giro ou movimento fragmentado ou desconectado de sua forma original, fica desconexo e prescinde de sentido. Mas, ao ver a dança de dois experientes, tudo ganha outra cor e beleza, como essa roda de capoeira que ora presencio.

A música dá mais vida e enfatiza o balé saudoso da mãe África, com um jogo vibrante de pernas, mãos e pés. Realmente os noviços são desengonçados, feito filhotes em seus primeiros passos.

 E o mundo, em seus ínfimos recortes, até se revela agradável,, principalmente ao emular a vida em estados primevos, ao imitar a natureza em traços atávicos humanos.

Assim, assistindo  a essa profusão de repetições, descobertas e insignificâncias através dos séculos, lembro-me de meu amigo Wellington de Faria, que poderia exclamar neste momento vendo os nossos iguais: “vive-se alegremente…”

 E só um riso ou lembrança insana me fariam voltar a me conectar ao meu tempo e concluir que o tempo tanto passou que já trocaram o relógio (analógico?) da parede por um digital, agora tão pequeno..  pequeno como o que fazemos na maior parte do dia, obrigando-nos a sacar óculos ou lente de aumento para topar com a saída do labirinto, com uma muleta ou acordar pra fazer o restante dos exercícios na academia (com a infinitamente minúsculo) e cessar as divagações e a enxurrada de palavras ….

mas , olhando uma última vez, o esforço de muitos aqui despertaria a curiosidade ou a inveja de Sísifo: Dante poderia pintar o inferno pós moderno, vazio, seco à base de ventiladores com auto-castigos e caretas bem treinadas. Arre, chega!

Cadê a mistura, água dodecagenária da Escócia com a essência líquida do coco? Se estivesse em casa, nenhuma linha se prontificaria , nem um fiozinho de verbo correria…

RECONCILIAÇÃO

maio 29, 2012

Image

Porque não olhava mais no espelho

não sabia mais quem era eu

Por não ver no tempo o silêncio dos trilhos

algo no meio se perdeu

Gerava um monstro (uma quimera) de pedra e razão

imperava a ordem prática das coisas

e o sentimento que estivesse à mão

Ébrio de imagens , vícios fáceis, ninguém atina

A gente só tem idéia do mal quando ele termina

 

Descobri que as paredes guardam mais que segredos

As casas conservam consigo glórias, lágrimas, desejos

A casa conversa comigo, acolhe meus fantasmas em seu teto quente

E o chão onde piso não é terra,

é o espaço em que descrevo a história cadente

Cansei de guerras e fiquei a olhar estrelas

e as guelras, relvas e matas que ainda sentia.

Tudo se transforma, mas fica um resto no sangue, na pele,

Transmuta-se em pedra, planta, energia

 

Ali, sentado escrevendo defronte à teia do largo mundo

onde outrora se fariam cartas de amor

ou se atestasse cenas, ânsias de luxúria

me arremesso contra os mistérios da dor

            Nada há de ser tão ruim

            que não venha também prum fim

 

Caminho, despojado de senões e rumos

reconciliado entre os cílios dos edifícios

como viajasse ao pó de trilhas e plenilúnios

(e) me encontro transitório, mutante, fronteiriço.

 Image

OBSESSÃO CINZA

maio 25, 2012

Image

Postei-me para o cinza pluvial

Botei uma cadeira de frente pra avenida

pra não ouvir mais nada

Os carros, milhares, desapareciam

do meu campo de visão

como se despencando do quadro, caíssem no inferno

me comprazia vê-los indo embora

realçava-os a fumacinha que o asfalto emanava

(deuses nas máquinas?)

(deus ex machina?)

 

Uma brisa fresca arrepiava os pelos

e balançavam orquídeas mortas

Desse lado, felizmente, nenhum pássaro trinava

só os motores ensurdecedores

com seus cantos de partida

 

Obsessão pelo cinza

(síntese da noite e do dia)

a cor da face  da cidade

A ingenuidade acabou e o sonho

nas maçãs rosadas ( que dó)

nos rostos ousados

o ozônio e o pó

 

Oh, Cinza!

Teias de minha paisagem (trançam e transam os olhos)

O bicho da seda arrasta o casulo

Nada em vão

Metamorfose, passagem

para o fim da civilização

O ÚLTIMO POR DO SOL

maio 24, 2012

Image

Postei-me na santu-área

varal de meus versos úmidos

Não quis a rima do crepúsculo com o acaso

 

A última urna do dia do ano

encarou-me cálida:

Nem vermelho-róseo ou dourado

Um pálido cinza nublava

as intenções de uma desesperada brancura

 

Concentrei-me em minha diva,

musa das horas da vida

e conclamei(-a) a partilhar a dádiva:

Venha ver o último dia do nada.

                       

                        (Ozias Stafuzza) , 31/12/99

O VERBO VAZIO (o vazio do verbo)

maio 24, 2012

Não falo mais

com pessoas

vivas

                        só converso

                        com sombras

                                               Fantasmas

                                               me

                                               respondem

                                                                       em ecos

                                                                       perversos

                                               São olhos

                                               da noite

                        bichos

                        aprisionados

                                                                       Fúria da

                                                                       carne

sobre nervos

lisos

 

Sobras

da morte

                        legião de

                        livros

                                                                       o segredo

                                                                          nas

                                                                       obras

                                               Do

                                               parto do

                                               mundo

                        Das alturas

                        os vazios

o peso de

uma palavra

                                               Áridas

                                               rachaduras

                                                                       dos versos

                                                                       onde resido.

 Image

Se o olhar se p…

maio 11, 2012

Image

Se o olhar se perde no horizonte
o que está longe se aproxima
e o sonho faz uma ponte,
um barco,
uma rima.

LUNÁTICO

maio 11, 2012

Image

A madrugada me bate à porta

seu brilho me chama à janela

   Essa lua é uma louca!

   Como pode ser assim tão bela?

   Iluminando meio mundo,

   assim, nua , amarela,

   que me pergunto:

– Como pude viver esquecendo  a boemia ,

longe dela ?

Essa lua olhando sim, pra mim!

– Como pode estar tão longe

e no entanto tão perto de mim?

Meus pés saem do chão

E em minha  órbita

            quase toco sua esfera

meu deserto, suas crateras

que lá na terra zombam

   de meu amor lunático:

            – Esquisitice …

Ah, o sorriso emoldurando  sua boca enigmática

o sorriso do gato de Alice

            Sua luz láctea invadindo a noite preta

            Sua luz prata se evadindo à noite lenta

E quanta espera para te ver

apagando o sol

exibindo  seu poder

sobre a humanidade inquieta

            Sua luz prata invadindo a noite preta

            Sua luz láctea se evadindo à noite lenta.Image