RECONCILIAÇÃO
Porque não olhava mais no espelho
não sabia mais quem era eu
Por não ver no tempo o silêncio dos trilhos
algo no meio se perdeu
Gerava um monstro (uma quimera) de pedra e razão
imperava a ordem prática das coisas
e o sentimento que estivesse à mão
Ébrio de imagens , vícios fáceis, ninguém atina
A gente só tem idéia do mal quando ele termina
Descobri que as paredes guardam mais que segredos
As casas conservam consigo glórias, lágrimas, desejos
A casa conversa comigo, acolhe meus fantasmas em seu teto quente
E o chão onde piso não é terra,
é o espaço em que descrevo a história cadente
Cansei de guerras e fiquei a olhar estrelas
e as guelras, relvas e matas que ainda sentia.
Tudo se transforma, mas fica um resto no sangue, na pele,
Transmuta-se em pedra, planta, energia
Ali, sentado escrevendo defronte à teia do largo mundo
onde outrora se fariam cartas de amor
ou se atestasse cenas, ânsias de luxúria
me arremesso contra os mistérios da dor
Nada há de ser tão ruim
que não venha também prum fim
Caminho, despojado de senões e rumos
reconciliado entre os cílios dos edifícios
como viajasse ao pó de trilhas e plenilúnios
(e) me encontro transitório, mutante, fronteiriço.