OBSESSÃO CINZA
Postei-me para o cinza pluvial
Botei uma cadeira de frente pra avenida
pra não ouvir mais nada
Os carros, milhares, desapareciam
do meu campo de visão
como se despencando do quadro, caíssem no inferno
me comprazia vê-los indo embora
realçava-os a fumacinha que o asfalto emanava
(deuses nas máquinas?)
(deus ex machina?)
Uma brisa fresca arrepiava os pelos
e balançavam orquídeas mortas
Desse lado, felizmente, nenhum pássaro trinava
só os motores ensurdecedores
com seus cantos de partida
Obsessão pelo cinza
(síntese da noite e do dia)
a cor da face da cidade
A ingenuidade acabou e o sonho
nas maçãs rosadas ( que dó)
nos rostos ousados
o ozônio e o pó
Oh, Cinza!
Teias de minha paisagem (trançam e transam os olhos)
O bicho da seda arrasta o casulo
Nada em vão
Metamorfose, passagem
para o fim da civilização